terça-feira, 27 de novembro de 2007

Filosofia da rotunda


Não pude ficar indiferente a esta recente polémica sobre a tão famigerada rotunda lá ao pé da loja das televisões. Também eu circulo diariamente pelas ruas desta vila, e também me vou apercebendo de formas e obras muito peculiares. Mas não sou uma pessoa de polémicas. Na realidade, faço sempre um voto de confiança nas pessoas e procuro sempre descobrir, para os actos dos outros, uma razão talvez mais remota, não tão imediatamente acessível, que justifique porque decidiram fazer uma coisa de determinada forma. E o facto é que chego a conclusões que nunca se esperariam. Por exemplo, nada tenho contra essas alterações no trânsito da nossa vila, porque em todas essas obras eu tenho descoberto o seu verdadeiro motivo, motivo esse que em muito contribui para a modificação, para melhor, refira-se, dos hábitos e costumes das gentes castrejas.
A tal rotunda constitui, na verdade, um exemplo de como não nos devemos deter perante os imprevistos e ocorrências mais impensáveis, aprendendo, em vez, a contorná-los. Foi o que fiz a primeira vez que ali passei. Agora já me habituei. E o que é que ficou daí? Bem, posso dizer que sou um homem novo. Agora, perante a coisa mais bizarra que me apareça à frente, não me fico, inerte e perplexo, nem critico ninguém. Procuro antes encontrar em mim a forma de superar o inusitado obstáculo. E isto ajuda-me em tantas outras coisas da minha vida, como, por exemplo, quando necessito de evacuar e a vontade começa a sobrepor-se, de forma vigorosa, à capacidade de resistência do esfíncter, não havendo um WC por perto, logo a minha faculdade de superação de obstáculos sonda o terreno em redor, em busca de uma giesta ou de um pinheiro que possa servir de biombo aos meus alívios mais recônditos. Em última instância... borro-me todo!