sábado, 17 de novembro de 2007

I Edição do Certame “CU-À-MOSTRA”


A todos os que acusam estas terras dessa maleita crónica denominada “marasmo cultural”, aliás tão crónica que já havia quem pensasse que se tratava de uma enfermidade incurável, e que só morrendo o bicho é que morria a peçonha, aqui fica o exemplo da pujante vitalidade cultural que vai vicejando por estes lados: refiro-me a um evento que, a par com outros, decorreu no Verão de S. Martinho, juntando muitos populares.
Óbvio que as castanhas e o vinho ajudaram muito. É aliás notório que onde haja de comer e beber a “culturalidade” do evento acabe por se tornar um aspecto mais ou menos lateral. O que importa é encher a leira. Se o que lá está é uma escultura do tempo dos Budas ou um penico em barro da Oficina do Ti Zé Maria, em Ribolhos, isso é irrelevante.
A I Edição do Certame “CU-À-MOSTRA” veio pôr a nu toda uma série de artefactos que achamos serem de extrema utilidade para futuros estudos antropológicos, pela quantidade de matéria para estudo que encerram. Podemos ali aprender muito sobre a maneira de ser das gentes castrejas. Claro que o principal elemento a destacar consiste na figura do “rabo”, o qual se encontra na encruzilhada de muitas das actividades que enformam o tecido social e económico destas terras.
Primeiro, há que referir que o pessoal anda habituado a agachar-se cada vez mais, e com tendência a piorar. Naturalmente, quanto mais uma pessoa se agacha, mais se lhe vê o rabo, e daí que, por princípio, uma pessoa devesse evitar ao máximo agachar-se, pois podem ver-lhe o rego ou ter outros vislumbres bem mais insuspeitos. E depois há também a questão de ninguém gostar de expor o seu rabo desta maneira, correndo o risco de, ao encontrar-se, precisamente, nessa posição, alguém, ainda assim, o reconhecer. Isto seria muito desagradável, pois sendo reconhecido pelo rabo, o indivíduo teria todo o direito a concluir que tinha cara-de-cu. É razoável, contudo, que se pense assim.
Em segundo lugar, o cidadão médio tem todo o direito a reclamar das condições de vida que lhe vão sendo impostas, e é claro que o cidadão castrejo não pode ser considerado uma carta fora do baralho. Também a ele lhe impõem severas condições de vida e entraves ao seu desenvolvimento, e, por isso, o cidadão castrejo, em todas as circunstâncias em que se aperceba de que o querem tapear, tem todo o direito a vociferar: “Porra, já me estão a ir ao cu!” Metaforicamente falando, é claro.
Mas o que importa relevar, em todo o caso, é o cu, ou seja, o rabo. O rabo é, por assim dizer, o interface de comunicação do indivíduo com o mundo que o rodeia, tornando-se, por essa via, uma espécie de palimpsesto. Não admira, portanto, que o devamos considerar como uma fonte virtualmente inesgotável de informação para aquele que se esforça por compreender a maneira de ser própria destas gentes. Mas isso deixo para os académicos, tal como o eminente Dr. Narcísiotónio Malemérito Patacoeira, especialista em patacoadas, e de quem espero ter uma contribuição brevemente nestas páginas virtuais.
Entretanto, uma última palavra para a propriedade da época que escolheram para a realização deste evento: o Verão de S. Martinho. É indiscutível que castanhas assadas e rabo são, indefectivelmente, dois elementos que casam na perfeição. Embora, por vezes, tal relação se possa tornar tempestuosa, o facto é que se trata de uma união indissociável, selada pela natureza própria das coisas.
Cá ficaremos, pelo nosso lado, ansiosamente à espera de mais uma edição do “CU-À-MOSTRA”, pois, está visto, é de “CU-À-MOSTRA” que o povo gosta!...